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''' | '''SISTEMA BRASILEIRO DE TRILHAS DE LONGO CURSO''' | ||
O | O Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso é uma iniciativa conjunta do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio), grupos de voluntários e sociedade civil organizada – como, por exemplo, o Movimento Trilha Transcarioca e a Associação Trilha Transmantiqueira. Possui como objetivo conectar diferentes unidades de conservação do país. O projeto está inserido no contexto do Programa Nacional de Conectividade de Paisagens (Conecta), instituído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) a partir da Portaria nº 75 de 26 de março de 2018, e foi inspirado nos sistemas de trilhas de longo curso estadunidense e europeu (National Trails System e European long-distance paths, respectivamente). | ||
Os sistemas de trilhas surgiram com o intuito de proporcionar recreação e geração de renda mediante a integração entre os usuários de áreas de uso público das áreas protegidas e comunidades locais. Posteriormente, os benefícios ecológicos e ambientais também se tornaram parte da proposição e finalidade de implementação do Sistema, uma vez que a fauna também se utiliza das trilhas. Desta maneira, a conectividade de paisagens por meio de trilhas de longo curso ganhou relevância como estratégia de conservação, haja vista que um dos principais fatores que ameaçam a biodiversidade é a fragmentação dos habitats. A migração da fauna entre áreas protegidas garante a manutenção do fluxo gênico e a variabilidade genética. | |||
No que tange a geração de renda, temos como exemplo, no caso brasileiro, a oportunidade de propriedades estabelecidas por onde passarão os corredores em dar uso econômico às áreas de reserva legal ou áreas de preservação permanente, por meio de serviços como camping e alimentação para os visitantes. Estima-se que a cada 15-20 km de trilha é necessário um ponto de pernoite e alimentação. | |||
O sistema europeu foi projetado para incluir vilas e povoados em seus traçados com o propósito de impulsionar o comércio local, como o estabelecimento de pousadas, albergues, restaurantes e lojas de equipamentos de montanha. É composto por 12 trilhas de longo curso denominadas E-Paths (E1 a E12), onde cada uma é constituída por trechos menores: rotas que fomentam o desenvolvimento regional a partir do turismo ecológico. | |||
Da mesma maneira, o Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso está implementando, inicialmente, cinco grandes corredores ou Trilhas de Longo Curso Nacionais, sendo elas: | |||
• Corredor Litorâneo, que ligará os municípios Oiapoque e Chuí, localizados no extremo norte e extremo sul do litoral brasileiro, respectivamente. | |||
• Caminho dos Goyazes, que conectará a cidade de Goiás Velho até o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, passando pelo Distrito Federal. | |||
• Caminhos do Peabiru, que ligará o Parque Nacional do Iguaçu ao litoral paranaense. | |||
• Caminhos Coloniais, seguindo rotas usadas desde o período colonial e imperial, localizadas entre o litoral do Rio de Janeiro e a Chapada dos Veadeiros, onde se conetarão ao Caminho dos Goayzes. | |||
• Trilha do Velho Chico, da nascente à foz do Rio São Francisco. | |||
Cada grande corredor é composto por trilhas de longo curso regionais nas quais o fim de uma coincide com o início da imediatamente seguinte. A existência dos percursos regionais é relevante pois permite ao praticante caminhar por períodos cujas durações – sete dias, quinze dias ou vinte e oito dias - são compatíveis com o tempo de férias do caminhante. | |||
Entre os percursos implementados totalmente ou parcialmente do Corredor Litorâneo estão a Rota dos Faróis, o Caminho da Araucárias, a Travessia do Tabuleiro, Rota da Baleia Franca, a Transmantiqueira, Trilha Transcarioca, Rota Darwin, os Caminhos da Serra do Mar, Travessia do Caparaó, Rota do Descobrimento, Rota das Emoções, a Trilha do Utinga e a Trilha do Amapá. | |||
O Caminho de Cora Coralina, Trilha Missão Cruls e a Travessia das Sete Quedas integram o Caminho dos Goyazes. As trilhas regionais do Caminho do Peabiru reproduzem parte do trajeto utilizado pelos índios Guarani entre o Oceano Atlântico e a Cordilheira dos Andes no Pacífico Sul. O trecho localizado no Parque Nacional das Araucárias já está sinalizado. | |||
Já os Caminhos Coloniais incluem em seus domínios a Trilha Transcarioca, parte dos Caminhos da Serra do Mar, além da Trilha Transespinhaço, rota próxima à Belo Horizonte, entre o Parque Nacional da Serra do Cipó e a cidade mineira de Diamantina. | |||
== CORREDOR LITORÂNEO == | |||
O Corredor Litorâneo ou Trilha Oiapoque-Chuí compreende mais de 10.000 km de percurso, passando por mais de 100 unidades de conservação federais, estaduais, municipais e privadas ao longo da costa brasileira. Já estão implementadas ou em fase de implementação as seguintes trilhas de longo curso regionais: Caminho das Araucárias, Travessia do Tabuleiro, Transmantiqueira, Trilha Transcarioca, Rota Darwin, Caminhos da Serra do Mar, Travessia do Caparaó e Rota das Emoções. | |||
'''Rota dos Faróis''' | '''Rota dos Faróis''' | ||
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Uma fração da trajetória percorrida pelo naturalista inglês Charles Darwin, durante sua passagem pelo Brasil em 1832, faz parte do Corredor Litorâneo e já possui trechos sinalizados. A Rota Darwin, como foi denominada, se inicia em Niterói e se encerra no município Fluminense de Maricá após 74 km de percurso. Em seus domínios, estão incluídas duas unidades de conservação: Parque Natural Municipal de Niterói e o Parque Estadual da Serra da Tiririca. O caminho é dotado de grande relevância histórica, despertando a curiosidade de moradores e turistas. Após passar pelo Parque Estadual da Serra da Tiririca, por exemplo, o caminhante tem a oportunidade de visitar a fazenda na qual o ilustre cientista se hospedou quando visitou o Brasil. No caso da Rota Darwin, a identidade visual da sinalização escolhida foi a figura de um macaco, dentro dos padrões estabelecidos pelo Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso, já que este animal possui ancestral em comum com o homem, referenciando assim uma das mais importantes teorias científicas das Ciências Naturais, a Seleção Natural, concebida por Darwin. | Uma fração da trajetória percorrida pelo naturalista inglês Charles Darwin, durante sua passagem pelo Brasil em 1832, faz parte do Corredor Litorâneo e já possui trechos sinalizados. A Rota Darwin, como foi denominada, se inicia em Niterói e se encerra no município Fluminense de Maricá após 74 km de percurso. Em seus domínios, estão incluídas duas unidades de conservação: Parque Natural Municipal de Niterói e o Parque Estadual da Serra da Tiririca. O caminho é dotado de grande relevância histórica, despertando a curiosidade de moradores e turistas. Após passar pelo Parque Estadual da Serra da Tiririca, por exemplo, o caminhante tem a oportunidade de visitar a fazenda na qual o ilustre cientista se hospedou quando visitou o Brasil. No caso da Rota Darwin, a identidade visual da sinalização escolhida foi a figura de um macaco, dentro dos padrões estabelecidos pelo Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso, já que este animal possui ancestral em comum com o homem, referenciando assim uma das mais importantes teorias científicas das Ciências Naturais, a Seleção Natural, concebida por Darwin. | ||
Caminho das Araucárias | '''Caminho das Araucárias''' | ||
O Caminho das Araucárias é um projeto de trilha de longo curso regional em fase de implementação, embora parte do percurso já esteja sinalizado. Liga o Parque Estadual do Caracol (RS), unidade próxima às cidades gaúchas de Gramado e Canela, ao Parque Nacional de São Joaquim (SC), localizado no sudeste do estado catarinense. Ao longo deste trajeto, o visitante passará pelas unidades rio-grandenses Floresta Nacional de Canela, Parque Natural Municipal da Ronda, Floresta Nacional de São Francisco de Paula, Área de Proteção Ambiental Estadual da Rota do Sol, Parque Estadual do Tainhas, Estação Estadual Ecológica de Aratinga, além dos parques nacionais da Serra Geral e Aparados da Serra. A sinalização do trecho teve início em setembro de 2017. | O Caminho das Araucárias é um projeto de trilha de longo curso regional em fase de implementação, embora parte do percurso já esteja sinalizado. Liga o Parque Estadual do Caracol (RS), unidade próxima às cidades gaúchas de Gramado e Canela, ao Parque Nacional de São Joaquim (SC), localizado no sudeste do estado catarinense. Ao longo deste trajeto, o visitante passará pelas unidades rio-grandenses Floresta Nacional de Canela, Parque Natural Municipal da Ronda, Floresta Nacional de São Francisco de Paula, Área de Proteção Ambiental Estadual da Rota do Sol, Parque Estadual do Tainhas, Estação Estadual Ecológica de Aratinga, além dos parques nacionais da Serra Geral e Aparados da Serra. A sinalização do trecho teve início em setembro de 2017. | ||
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Antigo caminho em pé de moleque que liga a vila Histórica de Mambucaba a São José do Barreiro, por meio do Parque Nacional da Bocaina. Dali é possível fazer uma conexão com a Trilha Transmantiqueira. | Antigo caminho em pé de moleque que liga a vila Histórica de Mambucaba a São José do Barreiro, por meio do Parque Nacional da Bocaina. Dali é possível fazer uma conexão com a Trilha Transmantiqueira. | ||
'''Trilha Transmantiqueira''' | '''Trilha Transmantiqueira''' | ||
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'''Trilha de Utinga''' | '''Trilha de Utinga''' | ||
Nome provisório para a travessia de três dias, ligando três unidades de conservação estaduais, que está sendo implementada pelo IDEFLOR do Pará. | Nome provisório para a travessia de três dias, ligando três unidades de conservação estaduais, que está sendo implementada pelo IDEFLOR do Pará. | ||
== CAMINHO DOS GOYAZES == | |||
Em 1892, com objetivo de delimitar o perímetro onde Brasília seria construída, Luiz Cruls liderou uma expedição de aproximadamente 600 km através do Planalto Central. A trilha de longo curso Caminho dos Goyazes proporciona aos caminhantes a experiência de realizar parte do percurso que antecedeu a construção da capital federal. Abarca as seguintes trilhas regionais: | |||
'''Caminho Cora Coralina''' | |||
O percurso se inicia na Área de Proteção Ambiental da Serra Dourada localizada na Cidade de Goiás e parte em direção ao leste goiano até alcançar o município de Corumbá de Goiás. Conecta a Área de Proteção Ambiental da Serra Dourada à APA que circunda o Parque Estadual dos Pirineus, em Pirenópolis, passando pelo Parque Municipal da Estrada Imperial e pelo Parque Estadual da Serra do Jaraguá. Possui 302 km de extensão e envolve, ao longo de seu percurso, além das localidades já citadas, os municípios goianos São Francisco de Goiás, Jaraguá, Itaguari e Itaberaí. | |||
'''Trilha Missão Cruls''' | |||
A Trilha Missão Cruls se refere ao trecho do Caminho dos Goyazes inserido no Distrito Federal e arredores. Se iniciará na APA do Descoberto, próximo ao limite do estado de Goiás e ao Distrito Federal. A partir daí, segue em direção leste, alcançando a Floresta Nacional de Brasília. Inclui a Trilha União, que liga a Floresta Nacional ao Parque Nacional de Brasília, e, finalmente, se encerra dentro das dimensões do Parque Natural Municipal do Itiquira no município goiano de Formosa. Já foram sinalizados 136 km de trilha que também podem ser percorridos de bicicleta. | |||
'''Travessia Sete Quedas''' | |||
Esta travessia está inserida no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e possui cerca de 23,5 km de extensão. O Rio Preto, em conjunto com campos rupestres, veredas e cerrado strictu sensu, compõe a paisagem da trilha, que possui campings e banheiros secos ao longo de seu trajeto. | |||
== CAMINHO DO PEABIRU == | |||
Farão parte do percurso as seguintes unidades de conservação: Parque Nacional de Iguaçu, Estação Ecológica da Mata Preta, Parques Nacional das Araucárias, Parque Nacional Guaricana, Saint-Hilaire/Lange, Florestas Nacionais de Três Barras e Assungui, além de várias outras unidades de conservação do estado do Paraná. A ideia é reproduzir parte da estrada índigena que se iniciava nos Andes peruanos e se estendia até o Oceano Atlântico ao alcançar o litoral do atual estado de São Paulo e Paraná. Tinha aproximadamente 3 mil quilômetros e passava ao longo dos atuais territórios bolivianos e paraguaios. A trilha de longo curso em questão almeja conectar o município paranaense Foz do Iguaçu ao litoral do estado, destino final de um dos ramais desta rota milenar, onde se conectará com a Trilha Oiapoque x Chuí. | |||
== CAMINHOS COLONIAIS == | |||
Os Caminhos Coloniais é um curso turístico herdado do Brasil Colonial que liga o interior brasileiro às cidades litorâneas de Paraty e Rio de Janeiro e é constituído por quatro trechos regionais. Estes trechos ligam o municípios Paraty e Rio de Janeiro à cidade histórica de Ouro Preto. | |||
O percurso foi por muito tempo utilizado para escoar a produção de ouro das cidades minerárias aos portos de Paraty e Rio de Janeiro e hoje é possível refazer esta trilha de grande relevância histórica e cultural. Além do valor histórico, o percurso proporciona ao viajante contemplar diversas paisagens, tais como cachoeiras, mirantes, serras, formações geológicas, entre outras. | |||
No momento, está em implementação um dos seus pilares formadores: a Trilha Transespinhaço, que fará parte da conexão entre os Caminhos Coloniais e os Caminhos dos Goyazes na Chapada dos Veadeiros. | |||
== TRILHA DE LONGO CURSO CHICO MENDES == | |||
Única trilha de longo curso do bioma amazônico, o percurso está totalmente inserido na RESEX Chico Mendes. São aproximadamente 90 km que percorrem as estradas de seringa – caminhos utilizados pelos seringueiros com o objetivo de extrair o látex das seringueiras espalhadas pela floresta. | |||
As trilhas de longo curso e outras formas de turismo são usadas pelas comunidades locais como estratégia de conservação e combate ao avanço do desmatamento. | |||
== SINALIZAÇÃO DO SISTEMA BRASILEIRO DE LONGO CURSO == | |||
A sinalização padrão utilizada em trilhas de longo curso pelo Sistema Brasileiro, ou na trilha mais longa de cada unidade de conservação federal, se dá a partir do desenho de uma pegada amarela sobre fundo preto em um sentido e uma pegada preta sobre fundo amarelo no sentido inverso. Essa sinalização segue as melhores práticas internacionais e é também utilizada em sistemas viários mais complexos como estradas e rodovias. Cada trilha ou unidade pode customizar o desenho da pegada sem fugir do padrão das cores amarela e preta. | |||
Sua utilização, que está aberta gratuitamente para aplicação por qualquer pessoa ou órgão, independente da esfera de governo, está disciplinada e bem explicada pelo Manual de Sinalização de Trilhas do ICMBio: http://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/publicacoes-diversas/manual_de_sinalizacao_de_trilhas_ICMBio_2018.pdf | |||
- | Acompanhe os avanços do Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso nas seguintes páginas do facebook e websites: | ||
- Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso: https://www.facebook.com/sistemabrasileirodetrilhas/ | |||
- Trilha Velho Chico: https://www.facebook.com/trilha.velho.chico/ | |||
- Caminho das Araucárias: https://www.facebook.com/groups/1321470374628111/ | |||
- Trilha Transmantiqueira: https://www.facebook.com/trilhatransmantiqueira/ | |||
- Transcarioca:http://trilhatranscarioca.com.br/ e https://www.facebook.com/TrilhaTranscarioca/ | |||
- Rota Charles Darwin:https://www.facebook.com/Rota-Charles-Darwin-Trilha-de-Longo-Percurso-955632977932063/ | |||
- Caminho Cora Coralina: https://www.facebook.com/Caminho-de-Cora-268062630396837/ | - Caminho Cora Coralina: https://www.facebook.com/Caminho-de-Cora-268062630396837/ | ||
- Trilha Transespinhaço: https://www.facebook.com/trilhatransespinhaco/ | - Trilha Transespinhaço: https://www.facebook.com/trilhatransespinhaco/ | ||
- Travessia das Sete Quedas: http://www.icmbio.gov.br/parnachapadadosveadeiros/guia-do-visitante.html | - Travessia das Sete Quedas: http://www.icmbio.gov.br/parnachapadadosveadeiros/guia-do-visitante.html | ||
- Caminhos da Serra do Mar: https://www.facebook.com/Caminhos-da-Serra-do-Mar-442326655798587/ | |||
== REFERÊNCIAS == | |||
AGUIAR, L. Roteiro: cidades históricas no Caminho Velho da Estrada Real. Disponível em: <https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/roteiro-cidades-historicas-charmosas-no-caminho-velho-da-estrada-real/>. Acesso em 09 de jul. de 2018. | AGUIAR, L. Roteiro: cidades históricas no Caminho Velho da Estrada Real. Disponível em: <https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/roteiro-cidades-historicas-charmosas-no-caminho-velho-da-estrada-real/>. Acesso em 09 de jul. de 2018. |
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